terça-feira, 28 de agosto de 2007

Milhares contrários à Enturmação



Os estudantes da rede estadual invadiram o primeiro piso da 5a Coordenadoria Regional da Educação (5ª CRE) na manhã de ontem. O protesto, contra o Processo de Enturmação implantado pelo Governo do Estado neste segundo semestre de 2007, foi organizado pelo Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul (Cpers/Sindicato). Diferentemente do planejado, os manifestantes insultaram o Executivo Estadual, apagaram as luzes da 5ª CRE, chutaram portas, atiraram pedras, derrubaram grades e quebraram vidros. O episódio trocou a normalidade dos setores da Coordenadoria por medo e pavor, mas ninguém ficou ferido e não ocorreram prisões.A passeata com mais de mil pessoas, entre alunos, professores, pais, funcionários, Diretórios Centrais Estudantis (DCEs), Sindicato da Saúde e Central Única dos Trabalhadores (CUT), iniciou às 10h no chafariz do Calçadão e seguiu até o prédio da 5a CRE.

Na chegada do grupo o clima entre os funcionários da repartição ficou tenso. Em meio ao nervosismo, o assessor Ézio Moreira impediu que os manifestantes subissem até o segundo andar, onde estava o coordenador da 5a CRE, Francisco Elifalete Xavier. Com os rostos pintados, apitos, bombas caseiras, faixas, chocalhos e gritos, cerca de 200 jovens se espalharam pelo hall. Foram necessários 20 minutos até que os líderes do Cpers conseguissem contornar a situação e retirassem os estudantes do prédio.Auxílio policialMesmo do lado de fora a mobilização preocupou os servidores da 5a CRE. A coordenadora pedagógica, Delani Azambuja, decidiu chamar auxílio da Brigada Militar. E quando o reforço chegou foi impossível que alguém saísse do prédio para explicar o episódio aos policiais. Por volta das 11h os policiais militares conseguiram chegar até a porta principal da 5a CRE.

Com escolta, Delani arriscou um diálogo com os manifestantes, mas não obteve sucesso.Enquanto isso, Xavier entrou em contato com a Secretaria Estadual de Educação para solicitar orientação. Questionado a respeito da atitude que iria tomar, respondeu: “Ainda não sei, mas certamente os responsáveis pelos estragos serão penalizados”, disse. Durante todo o protesto alguns professores e alunos revezavam um microfone para conduzir o ato de descontentamento com a medida de aglutinação de turmas.


Desfecho e continuidade


Por volta das 11h30min, o diretor do 24o Núcleo do Cpers/Sindicato, Antônio Andrezza, reuniu uma comissão mista para entregar um documento que manifesta o repúdio da classe diante do Processo de Enturmação. Recebidos por Xavier e Delani, os líderes expuseram suas reivindicações e ouviram o parecer da 5a CRE.Conforme o apelo de Andrezza, outros problemas além da Enturmação, precisam ser ouvidos pelo Governo. “Não é um fato isolado como foi mencionado ontem. O Estado inteiro está mobilizado pela causa. Queremos ser ouvidos, a educação não pode sofrer com o sucateamento dos setores pedagógicos”, afirmou. O documento de uma página exige um posicionamento imediato da governadora Yeda Crusius, afirma que em nenhuma das audiências agendadas houve a presença de representantes governamentais e defende a educação como única forma de construção de uma sociedade justa, democrática e solidária.

Antecipação

Ainda antes do início das aulas da manhã de ontem, alunos, alguns professores e representantes da direção do Colégio Estadual Cassiano do Nascimento fecharam a avenida Dom Joaquim no sentido bairro-Centro. Com nariz de palhaço, faixas, cartazes e chocalhos o grupo seguiu até o Chafariz do Calçadão e juntou-se a outros educandários e integrantes do Cpers.OpiniõesO aluno da Escola Estadual Adolfo Fetter, Madison Guidotti Sampaio, comparou a implantação do Processo de Enturmação à ditadura. “A Yeda não deve se esconder e ignorar nossas manifestações, isso é ditar.” A coordenadora do DCE da Universidade Federal de Pelotas, Maria Suelem Jacobsen, endossou e pediu uma reavaliação das decisões. ”A educação não pode ser pensada como uma forma de economia, pois lida com afeto e carinho. Empilhar alunos nas salas de aula prejudica o educador e principalmente o processo de ensino e aprendizagem”, falou.Para encerrar a reunião, Xavier colocou a 5a CRE à disposição dos estudantes e demais classes envolvidas no manifesto, pediu prioridade ao diálogo e afirmou que encaminharia imediatamente o texto de repúdio à Secretaria Estadual de Educação.Uma nova versãoNa quarta-feira os alunos do turno da manhã da Escola Estadual Sylvia Mello fizeram um protesto contra o Processo de Enturmação. Em contraponto, o coordenador da 5ª CRE, Francisco Elifalete Xavier, fez uma avaliação da medida. Como exemplo, citou que na Escola Augusto Simões Lopes a união de algumas turmas resultou na disponibilização de 16 professores. Ontem, a diretora do educandário, Maria José Martins dos Anjos, discordou do coordenador e afirmou que apenas quatro educadores deixaram de ser aproveitados.


Os dois lados


O Processo de Enturmação é uma determinação da Secretaria Estadual de Educação (SEE), implantada neste segundo semestre de 2007, que pretende fechar 2,6 mil turmas do Ensino Fundamental, Ensino Médio (EM) e da Educação de Jovens e Adultos (EJA) em todo o Estado para disponibilizar professores às instituições que necessitem de educadores, tanto em sala quanto nas bibliotecas e projetos pedagógicos conjuntos.A aglutinação das turmas causou descontentamento em nível estadual. Nos 18 municípios da 5a CRE, que já realizou cerca de 70% das mudanças, as manifestações ganharam força com a aliança do 24º Núcleo do Cpers/Sindicato. Para o diretor da entidade, Antônio Andrezza, caso o Executivo não atenda às reivindicações e não se firme um entendimento, os estudantes irão continuar os protestos e os professores podem deflagrar greve.


Publicado em 10 de agosto de 2007, no site do Jornal Diário Popular.

Um comentário:

raquel disse...

O que é essa matéria??